08 dezembro, 2010

Declaração do Papa sobre preservativo gera debate

Durante debate em São Paulo, padres discordam sobre a necessidade do Papa se posicionar oficialmente a favor do preservativo


Uma especialista e dois padres chegaram a um consenso em debate na capital paulista: a Igreja Católica deve ser favorável ao uso da camisinha. Porém, as divergências ocorreram em relação à necessidade de Bento 16 defender essa ideia em um documento oficial. 


A recente afirmação do Pontífice em um livro de entrevistas justificando a utilização do preservativo em situações específicas, como a prostituição, foi criticada pelo padre Valeriano Paitoni. "Essa exceção abriu uma porta para a prevenção, mas demonstra moralismo sobre esse grupo de pessoas”, declarou.

Para Valeriano, que é membro fundador da Comissão Nacional de DST/Aids da Pastoral da Saúde da CNBB (Comissão Nacional dos Bispos do Brasil), o representante da Igreja Católica deveria ter se posicionado oficialmente a favor do preservativo. “Se isso tivesse ocorrido no início da epidemia, hoje haveria menos pessoas infectadas", disse.

O padre e jesuíta Luís Lima discorda. "A Igreja Católica é heterogênea. Há bispos que são radicalmente contra o uso do preservativo. O Papa não pode tomar uma decisão tão incisiva", declarou.

Mesmo afirmando que o posicionamento de alguns bispos dificulta o acesso ao preservativo e o avanço de políticas públicas, Luís afirmou que "a mudança de comportamento sexual tem que partir da população para depois chegar à Igreja”.

Religião e novas infecções

Para a doutora em teologia e uma das fundadoras do movimento Católicas pelo Direito de Decidir, Luiza Tomita, que também participou do debate, o HIV continua se espalhando com a influência de diferentes grupos religiosos que propagam 'o machismo e a ignorância'.

“Em Moçambique, na África, muitos homens com HIV procuram curandeiros. Esses homens são orientados a terem relação sexual com uma garota virgem e mais nova, para ficarem curados. Muitos fazem sexo com a própria filha”, explicou.

Luiza defendeu que as Igrejas precisam se unir para combater a aids. “A doença envolve várias questões, como educação, pobreza e preconceito. Enfrentar a pandemia não é só papel do movimento social e de políticas públicas.”

O debate A Igreja e a Camisinha foi realizado pela Pastoral da Aids em parceria com o Programa Estadual de DST/Aids de São Paulo.

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